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A Vitória da Graça

15/05/2010 13:37

No dia 31 de outubro de 1999, em Augsburgo, não muito longe de onde ficava um dos primeiros campos de concentração da Alemanha nazista (Dachan), o cardeal Edward Cassidy, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade Cristã, representando o Vaticano, e o bispo Christian Krause, presidente da Federação Luterana Mundial, representando os luteranos, assinaram o documento Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação por Graça e Fé. Uma das declarações mais enfáticas do documento de 20 páginas é esta: “Juntos confessamos: só pela graça e pela fé na ação salvadora de Cristo, e não com base em nossos méritos, somos aceitos por Deus e recebemos o Espírito Santo, que renova nossos corações e nos habilita e conclama a realizar as obras de bem”. O texto é o resultado final de 32 longos anos de encontros e reuniões de uma comissão internacional formada de católicos e luteranos. Chegou-se ao consenso de que a salvação decorre da graça de Deus e não de boas obras, o que vem ao encontro da famosa declaração de Paulo: “Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Além do texto, tanto a data e o local da assinatura dessa declaração conjunta lembram muito a Reforma Religiosa do Século XVI, pois foi no dia 31 de outubro de 1517, há 482 anos, que o alemão Martinho Lutero deu início à Reforma, e foi ali em Augsburgo, um ano depois, que ele reafirmou sua posição diante do enviado do papa Leão X, o cardeal Tomás de Vio, mais conhecido como Caetano. O que aconteceu na Alemanha em outubro passado deve ser entendido como uma vitória da graça, aquela graça de Deus que “se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11). E, para comemorar tamanha vitória, é imprescindível que se conheça o rico significado bíblico e teológico da palavra graça. Graça é a maneira pela qual Deus se dispõe a receber, de braços abertos, o pecador, não obstante sua santidade absoluta e o estado miserável em que se encontra aquele que dele se desviou. É uma bênção ou um favor verdadeiramente imerecido e indevido, que Deus concede em sua soberania, nunca em resposta a alguma iniciativa da parte do pecador. Deus não tem nenhuma obrigação de perdoar. Ninguém tem o direito de cobrar tal coisa de Deus. Ele, no entanto, perdoa por causa da graça. A iniciativa é sempre de Deus. É Ele quem dá início ao processo da salvação e providencia os meios necessários, nunca se desobrigando de sua boa vontade. É como define Gerhard Trenkler, um dos colaboradores do Dicionário de teologia bíblica, das Edições Loyola: “Graça é a atividade salvífica de Deus, que, decidida desde toda a eternidade, se tornou manifesta e eficaz na obra redentora de Cristo em favor de nós, e que continua e consuma em nós e no mundo a obra redentora” (vol. 1, p. 453). De fato é necessário separar a graça da obra, principalmente na gestação da salvação. É como argumenta Paulo, em cujas epístolas a palavra grega para graça (charis) aparece 100 vezes: “Se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça” (Rm 11.6). O lugar das obras é a posteriori, como conseqüência da salvação e, não, como meio de salvação. A graça pode alcançar os pecadores que foram longe demais, pois “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20). É de todo necessário distinguir a graça especial da graça comum. Esta é derramada sobre a totalidade da raça humana, sem discriminação. Por essa razão, Deus “faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5.45). Já a graça especial é derramada somente sobre aqueles que Deus elege para a vida eterna, mediante a fé em Jesus. Uma vez alcançados por essa graça, eles vão enxergar o dom de Deus, vão se arrepender de seus pecados, vão obter e desenvolver a fé salvadora, vão se integrar no corpo de Cristo e vão herdar a vida eterna. Os teólogos reformados gostam muito de falar sobre os seguintes aspectos da graça especial: a graça preveniente é a graça que antecede toda a decisão e esforço humanos; a graça eficaz é a graça que leva a efeito o propósito para a qual foi dada; a graça irresistível é a graça que não pode ser rejeitada, e a graça suficiente é a graça adequada para a salvação do crente, aqui e agora, e por toda a eternidade (definições de Philip E. Hughes, da Faculdade Australiana de Teologia, na Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã, das Edições Vida Nova, vol. II, p. 218-219). A maxi-hipérbole de André Jensen De quem é a maior hipérbole: do apóstolo João, na primeira metade do século I, ou do pastor brasileiro André Jensen, no início do século XX? João termina o Evangelho dizendo que se cada uma das muitas coisas que Jesus fez fosse relatada, “penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos” (Jo 21.25, NVI). Na tentativa de convencer os leitores de que a grande estrada de comunicação entre o céu e a terra não pode ser construída daqui para lá, mas, sim, de lá para cá, por obra da graça de Deus, André Jensen escreveu que tentar alcançar o céu por esforço próprio, por meio de dinheiro ou sofrimento, é voltar a construir a torre de Babel. Para deixar bem clara a verdade, o pastor faz uso da seguinte hipérbole: “O barro de todo o globo terráqueo, amalgamado com todos os mares, jamais daria a milionésima parte dos tijolos para o primeiro degrau de semelhante torre, e todas as florestas do Universo jamais dariam lenha para produzir a centelha necessária sequer para acender o forno destinado a queimá-los, não bastando tão pouco todas as gerações de todos os tempos, para cavar uma infinitésima parte da vala que se deveria abrir”. A maxi-hipérbole de André Jensen aparece em seu opúsculo Guardai-vos dos falsos profetas, publicado em 1919, há 80 anos. FONTE: Revista Ultimato

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15/05/2010 13:37

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